No tempo das pornochanchadas ou quando era gostoso de ver

Por Adolfo Gomes

 

"O cinema é para quem não tem nada", já dizia o crítico Rodolfo Brandão. Houve um tempo em que isso era a mais pura verdade, não só para os espectadores, cinéfilos e destituídos em geral, mas para quem se aventurava a fazer filmes como qualquer assalariado que luta pela sobrevivência. À margem do mecenato oficial, das leis de incentivo e das motivações estritamente artísticas, o cinema brasileiro conheceu o seu até hoje único modelo de produção e distribuição independente e rentável. Era gostoso de ver, os ingressos mais baratos que uma passagem de ônibus e as salas de exibição lotadas garantiam o pagamento das promissórias e toda sorte de empréstimos que faziam aquela indústria mambembe continuar a funcionar, sem projetos, só com ideias, algumas, diga-se de passagem, entre as mais infames e oportunistas já pensadas. Mas ninguém sairia impune diante de tais transgressões e logo um termo foi cunhado para agrupar aquelas impertinências populares...Não importava o tema, o estilo, o gênero...Se o cineasta era um jovem intelectual marginalizado pelas políticas culturais (leia-se as panelinhas ideológicas da época) ou um ex-eletricista que sabia como ninguém manejar uma câmera...Se havia nudez e as medidas e formas dos atores valiam mais que seus talentos dramáticos ...Tudo aquilo era Pornochanchada. Felizmente! Graças a esse rótulo hoje podemos reunir uma seleção de filmes, entre os mais variados, inventivos e famélicos que se tem notícia por estas bandas. Da sugestão picaresca ao sexo simulado e por fim o hardcore, as pornochanchadas tiveram uma instigante trajetória que agora refazemos com a mesma liberdade daqueles que sobreviveram à sua própria reputação.

 

 

 

Ninfas Diabólicas, de John Doo

John Doo, São Paulo, 85', 35mm, Cor, 1978
Classificação: 18 anos

Pai de família respeitável é assediado por duas jovens estudantes quando segue em viagem de negócios para o litoral. Depois de pedir carona, elas o seduzem e o levam até uma praia deserta onde, inesperadamente, fatos estranhos e perturbadores começam a acontecer. Bruxaria, suspense, demonismo, horror e fortes doses de erotismo marcam a estreia de John Doo na direção de cinema.

 

 

 

Fuk fuk à brasileira, de Jean Garrett

Jean Garrett, São Paulo, 80', 35mm, Cor, 1986
Classificação: 18 anos

Anão telepata é adotado por um casal praticante de orgias. Um dia, a mulher se recusa a lubrificar o ânus para o marido com margarina – ela só gosta de manteiga – e ele decide então sodomizar o pobre anão, que escapa do assédio pela privada e vai viver uma verdadeira odisseia com direito a lusitanos pansexuais, naves de formato fálico e outras aberrações eróticas.

 

 

 

Império do desejo, de Carlos Reichenbach

Carlos Reichenbach, São Paulo, 95', 35mm, Cor, 1980
Classificação: 18 anos

Viúva de ricaço vai ao litoral com o intuito de reaver um imóvel do falecido marido, que fora tomado por grileiros. Na viagem, conhece um casal de hippies e os convida para trabalharem como caseiros na casa de praia.

 

 

 

 

Senta no meu que eu entro na tua, de Ody Fraga

Ody Fraga, São Paulo, 90', 35mm, Cor, 1985
Classificação: 18 anos

Comédia de sexo explícito em dois episódios: Alô, buça – uma mulher liberal se assusta quando sua vagina começa a falar, afetando sua vida social; e O unicórnio - um homem é traído pela mulher, mas ao invés de um chifre, um pênis nasce em sua cabeça.

 

 

 

 

Volúpia de mulher, de John Doo

John Doo, São Paulo, 85', 35mm, Cor, 1984
Classificação: 18 anos

A saga de uma jovem interiorana expulsa de casa por ter engravidado. A moça vai para a capital, onde é acolhida por um travesti decadente. Na cidade grande, a jovem dá à luz seu bebê e se apaixona por um rico arquiteto.

 

 

 

 

Karina, Objeto de Prazer

Jean Garret, São Paulo, 84', DVD, Cor, 1982
Classificação: 18 anos

Filha de um pescador, Maria do Carmo é comprada por Rufino, que a prostitui sob o nome de Karina. Lucas, outro marginal, interessa-se por ela e passa a tentar conquistar seus favores, mas em vão. Numa partida de pôquer, Rufino aposta Karina com Lucas e perde, mas ela não quer entregar-se ao vencedor e Rufino a espanca violentamente. Karina mata-o. Na prisão, tem pesadelos, recordando os tempos em que viveu com Rufino. Conhece a advogada Sheila, que se propõe a defendê-la e consegue autorização para levá-la para sua casa à beira-mar. A amizade entre as duas vai se transformando em relação sexual.