Spartacus (1960)

Spartacus (1960)
Colorido, 197’, DCP
Diretor: Stanley Kubrick
Roteiro: Dalton Trumbo
Elenco: Kirk Douglas, Peter Ustinov, Laurence Olivier, Jean Simmons, Charles Laughton e Tony Curtis

Sinopse: Spartacus (Kirk Douglas) é um escravo rebelde que foi comprado por Lentulus Batiatus (Peter Ustinov), dono de uma escola de gladiadores. Para a diversão do corrupto senador romano Marcus Licinius Crassus (Laurence Olivier) e seus amigos, os gladiadores de Batiatus terão que lutar até a morte. Na noite anterior ao evento, os escravos são agraciados com a presença feminina. A companheira de Spartacus naquela noite é Varinia (Jean Simmons), também escrava que irá se apaixonar por Spartacus. Quando Spartacus descobre que Varinia foi vendida para Crassus, ele lidera os seus companheiros gladiadores numa rebelião que se torna a principal peça da engrenagem de uma luta política entre Crasso e um senador mais ponderado, Gracchus (Charles Laughton). No filme, ambição e busca desenfreada pelo poder convivem com disputas que envolvem desejo e paixão.

 

Um épico intelectual

Kubrick é conhecido pelo controle total de suas obras e pelo modo obsessivo com que dirigia os seus atores. A repetição até a exaustão de cenas em busca da perfeição também se tornou uma de suas marcas. Porém, em Spartacus, uma mega produção de época estrelada por Kirk Douglas e considerada uma das mais caras de Hollywood até aquele momento, a sua influência era limitada. Kubrick entra num estágio avançado da produção. Ele foi contratado para substituir Anthony Man na direção. Mann chegou a dirigir a primeira sequência do filme, mas um desentendimento entre ele e Douglas, que além de atuar, também era produtor da película, o fez sair de cena. Todo o resto ficou ao encargo de Kubrick, que na época tinha um pouco mais de trinta anos. O convite feito por Kirk ao Kubrick ocorreu porque eles já tinham trabalhado juntos anteriormente em Glória Feita de Sangue (Paths of Glory). Ao final, o filme alcançou bastante reconhecimento e recebeu o Oscar de ator coadjuvante (Peter Ustinov), direção de arte, figurino e fotografia.

As atuações, tanto de Kirk Douglas como do elenco secundário são marcantes. Spartacus protagoniza uma situação inversa à mítica trajetória de Jesus, que foi traído por um de seus seguidores e morreu crucificado na cruz. Spartacus, ao contrário, é protegido por sua tropa, que está disposta a sofrer injúrias a entregar o seu líder, que é mantido escondido entre eles. Mas, ao final, assim como Jesus, Spartacus será aprisionado e crucificado. O único alívio a esse triste fim é a convicção de que as sua ideais e questionamentos não irão morrer.

Spartacus 1

Spartacus possui cenas de batalha memoráveis, numa recriação de época poderosa, que envolve milhares de figurantes. Porém, o filme também possui uma forte carga verbal. Em sua liderança e mobilização de outros gladiadores para a rebelião, Spartacus faz longos discursos. A subversão do gladiador não está apenas nas suas ações, mas na sua oralidade. Essa característica do personagem principal faz com que o filme tenha sido considerada a primeira saga romana que lida com idéias com a mesma força que lida com o espetáculo.

O filme, após cinqüenta anos de seu lançamento, mantém sua força e vigor. As cenas espetaculares de guerra e a força das atuações faz com que a oportunidade de rever esse clássico na tela grande, com toda a sua exuberância, seja um belo presente de final de ano que os amantes do cinema não podem perder.

Spartacus

A cópia exibida no cineclube é em DCP, restaurada, e conta com uma cena crucial entre Olivier e Curtis, que foi cortada em 1967 por causa de sua insinuação homossexual. Porém, em 1991, mais de vinte anos depois, essa cena foi refeita e recolocada no filme. Nela, Crassus, senador romano corrupto e manipulador, que originalmente foi interpretado por Laurence Olivier e que na cena refeita é interpretado por Anthony Hopkins, durante o banho, pergunta ao seu escravo pessoal Antoninus (Tony Curtis), se ele prefere caracóis ou ostras. A diferença é uma questão de gosto e não de apetite e por isso não deve haver julgamento moral nessa escolha, explica Crassus ao escravo.

Por Marília Hughes