Os Doces Bárbaros (1978)

Os Doces Bárbaros
Brasil, 1978, 35mm, 100 min
Diretor e argumento: Jom Tob Azulay
Com Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso

Sinopse

Em 1976, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso formam a banda “Doces Bárbaros”. Eles se apresentaram em diversas cidades brasileiras, numa turnê memorável que marcaria de vez o nome dos cantores na história da música brasileira.

O documentário musical

Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso se juntaram para gravar novas músicas, sair em turnê pelo país e, depois, lançar um disco ao vivo. Na cola deles, o cineasta Jom Tob Azulay reuniu equipe para fazer algo que já era tradição em outros países, mas dava seus primeiros passos no Brasil: um documentário musical.

Nos EUA, por exemplo, em 1970, Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin realizaram “Gimme Shelter”. O trio seguiu os Rolling Stones por uma série de shows pelos EUA. Mas, muito além da banda, o filme traz a atmosfera turbulenta da época e desfaz, com muita inteligência, a idéia de paz e amor que norteava o imaginário hippie. “Gimme Shelter” expôs várias feridas, num filme que escapa e muito do institucional. Os diretores não estavam ali para referendar a genialidade da banda e seus integrantes.

Aliás, essa é uma questão central que norteia todo e qualquer filme que tem grandes personalidades como protagonistas: como ir além e não se tornar apenas um registro que se rende ao ídolo?

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Mas, quem são os bárbaros?

O show “Doces Bárbaros” teve estréia para quatro mil pessoas em São Paulo. Os fãs lotaram o Palácio do Anhembi nas noites seguintes e ali já se desenhava uma bem-sucedida aventura dos artistas baianos. Mas, para que o filme não se tornasse um “mero” registro de uma turnê feliz, o acaso e a ignorância jogaram a favor do diretor. Em Florianópolis, Gilberto Gil e o baterista Chiquinho Azevedo foram presos por porte de maconha. Apresentações interrompidas e o assunto tornou-se uma grande polêmica pelo país. O julgamento, captado pela câmera de Azulay, beira o patético. Gil e Chiquinho foram condenados e conduzidos para tratamento contra o vício. Ecos da ditadura transbordam pela tela. O filme acompanha toda essa situação e ganha uma nova dimensão. Torna-se um documento social e político da época.

A turnê seria retomada depois da libertação dos dois. No Rio de Janeiro, foram registrados recordes seguidos de bilheteria.

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Um doce produto

Os artistas baianos não incomodavam apenas a polícia. Jornalistas e a imprensa especializada fizeram marcação cerrada. Entre quase duas horas de filme, “Os Doces Bárbaros” revela coletivas de imprensa e entrevistas. Buscava-se respostas e posicionamentos políticos reiterativos, já conhecidos, mas Caetano e Gil não atenderam aos pedidos. Sem pudor, falaram de showbussines: sim, “Doces Bárbaros” era um produto para consumo na indústria do entretenimento. Muitos, à época, ficaram chocados com o posicionamento (ou falta de) dos quatro baianos, que passaram a ser considerados alienados e “escapistas”.

Fora toda essa atmosfera tensa e vibrante, o filme traz diversos clássicos do quarteto: “Atiraste uma Pedra”, “Pássaro Proibido”, “Quando”, “Esotérico” e “Um Índio”, entre outros. A cópia que será vista nessa memorável sessão promovida pelo Cineclube Glauber Rocha foi restaurada no início dos anos 2000, depois de um ano e meio de trabalho de som. Em princípio registrado em mono, agora o filme possui som dolby digital (5.1).

 Por Cláudio Marques