Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima, Mon Amour, 1959)

Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima, Mon Amour, 1959)
Preto e Branco, 88 minutos, 35mm
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Marguerite Duras
Elenco: Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Stella Dassas, Pierre Barbaud e Bernard Fresson

Sinopse

O filme narra o encontro amoroso entre uma atriz francesa (Emmanuelle Riva) e um arquiteto japonês (Eiji Okada) em Hiroshima, quatorze anos após o final da segunda guerra mundial. A mulher é atriz e está de passagem na cidade, onde participa de um filme anti-guerra. Em breve, retornará à Paris. A certeza da separação paira sobre eles. Além de amantes, tornam-se confidentes. Evocam histórias do passado, traumas vividos em tempos de guerra.

O Debut de Resnais

Hiroshima, Meu Amor marca a estréia de Resnais no cinema de ficção. Uma estréia considerada ousada na época de lançamento do filme. O diretor foge a uma narrativa clássica, linear. No longa, passado e presente se mesclam de maneira complexa. O flashback é muito usado por Resnais. Trata-se de um recurso comum nos dias de hoje, mas que nos anos 50 foi tratado como algo inovador.

Em Hiroshima, Meu Amor, situações evocadas pelo casal, seja através da fala ou do pensamento, são representadas imageticamente. É assim que visualizamos o passado da personagem feminina, que quando jovem, no período da guerra, morava em Nevers, na França. Lá, ela conheceu o seu primeiro amor, um jovem soldado alemão, e sofreu as duras conseqüências por amar um inimigo de sua pátria. O arquiteto japonês estava em combate quando Hiroshima foi bombardeada. Ele se salvou, mas toda a sua família pereceu.

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Cinema e literatura em equilíbrio

O cinema sempre flertou com a literatura. Na maioria das vezes, na forma de adaptação de obras literárias prontas. Não é esse o caso de Hirsohima, Meu Amor. Aqui não se trata de uma adaptação. Marguerite Duras, novelista francesa, é convidada por Resnais para escrever o roteiro de seu primeiro longa de ficção. Portanto, a criação de Duras é elaborada, desde o princípio, em parceria com o cineasta, e visa a construção de uma obra cinematográfica. Por esse trabalho, Duras recebeu uma indicação ao Oscar.

Hiroshima, Meu Amor está impregnado por relatos íntimos, sussurros, confidências entre dois amantes. Tudo é dito de uma forma suave e profunda. As palavras, em certos momentos, ganham contornos de um mantra que oscila entre o passado e o presente dos personagens. Mas tudo isso está em equilíbrio com os outros elementos fílmicos: enquadramento, atuação, montagem, música. Há uma junção arrojada entre eles. A construção narrativa é livre e não se encaixa em nenhuma fórmula pré-estabelecida. As cenas iniciais de Hiroshima, Meu Amor são marcantes nesse sentido. Nelas, os corpos dos dois amantes estão entrelaçados. A situação é filmada muito de perto e é difícil saber quem é o homem ou quem é a mulher. Percebe-se apenas a textura das peles, o movimento dos corpos. Trata-se de uma cena de forte carga poética e sensorial.

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Adeus a Resnais: o cineasta da memória

Alain Resnais morreu aos 91 anos de idade, em março de 2014. O ano de sua morte é também o ano de lançamento de seu último filme, Amar, Beber e Cantar, que estreou no Festival de Cinema de Berlim. São 60 anos de uma longa carreira e diversas obras marcantes, entre elas, Hiroshima, Meu Amor e O Ano Passado Em Marienbad, obras identificadas com a Nouvelle Vague Francesa e consideradas marcos fundadores do cinema moderno. Questões relacionadas à memória e ao tempo são freqüentes na obra de Resnais, seja ela documental ou ficcional, e por isso, muitas vezes, o diretor é lembrado como o cineasta da memória.

Por Marília Hughes